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Confira entrevista com Severino Ramos, o Biu


No próximo dia 21 de setembro, o Prêmio Fisco Municipal 2010 será entregue a Severino Ramos, o Professor Biu. Escolhido de forma unânime para ser o homenageado do Dia Municipal do Fisco, evento que ocorrerá na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (ALEPE) e tem o apoio do SINDICONTAS, ele é referência quando o assunto é Contabilidade, uma vez que leciona disciplinas nessa área há 35 anos, além de já ter trabalhado com auditores no Banco Central e na Fazenda estadual. Na entrevista abaixo, Biu ratifica a importância do cargo de auditor fiscal, comenta sobre a situação de arrecadação tributária no Estado e — sem abandonar nem mesmo por um instante sua condição de professor — ensina a como fazer a sociedade perceber o tributo como “um valor a serviço da cidadania”. 1. Por que contabilidade? E qual a importância da auditoria fiscal? Severino Ramos – A contabilidade surgiu no tempo do Cristo. Ele disse assim: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Ali, Ele mostrou o débito e mostrou o crédito. Já a auditoria é necessária, porque lamentavelmente você lida com seres humanos com erros propositais ou até erros involuntários. Então, no momento em que você, como auditor, tem o conhecimento altamente eclético sobre aquela matéria que você está auditando, então você vai coibir a existência de fraudes, de erros. É uma espécie de prevenção. 2. Atualmente, como está a situação tributária de Pernambuco? SV – A arrecadação tem crescido muito, provavelmente em função dos auditores que lá estão e também do serviço de informática. A tecnologia da Fazenda está muitíssimo avançada. Quando eu trabalhava na Fazenda, a gente ainda era do tempo em que digitava em máquina de datilografia com carbono. Hoje, não precisa mais. Hoje, o fiscal da Receita estadual está lá sentado em seu birô, abre o sistema de informática, bota a inscrição do contribuinte e sabe que ele não escriturou uma nota fiscal. Está nesse nível o avanço tecnológico. 3. E como está a situação fiscal de Pernambuco em relação ao cenário nacional? SV – Muito bom e inclusive o Estado deverá vir a fazer um concurso, pois já faz 14 anos que não há um concurso nessa área. E a Receita está muito equilibrada. Eu não acompanho questão de déficit nem superávit, mas, pelo cenário que me chega, acho que Pernambuco está avançando muito, sobretudo agora com Ipojuca. Ipojuca vai dar um salto muito grande pro Estado de Pernambuco, devido a Suape. 4. O que o senhor espera da atuação profissional dos seus alunos, já que participou da formação deles? Quais as suas expectativas? SV – Nada mais me alegra do que ver meu aluno conseguir lograr êxito como eu consegui. Quando eu abro meu computador e vejo uma mensagem de um aluno me agradecendo, penso que ele não tem que agradecer a mim não, o mérito é dele. Eu apenas posso ter colaborado no encaminhamento. Isso é a maior alegria que eu tenho. A gente não imagina a alegria que a gente sente quando vê o nosso nome no jornal. A gente diz ali: “Aqui acabou a minha escravidão no setor privado”. 5. Como o senhor se sente sendo escolhido por unanimidade para receber o Prêmio Fisco Municipal 2010? SV – Primeiramente, é um excesso de bondade. Porque eu não sou capaz de receber um prêmio tão nobre desse. Até perguntei a minha esposa: “O que é que você acha? Eu não sou digno de um prêmio desses, isso é excesso de bondade...”. E ela disse: “Meu filho, vá”. E eu não vou poder deixar de ir. Então, eu vejo sinceramente como um excesso de bondade. Agora evidentemente que eu posso, dentro do todo, ter uma pequeníssima, uma pequeníssima contribuição, mas eu vejo como excesso de bondade. 6. Qual é a importância de se ter eventos como o Dia do Fisco Municipal? SV – É muito importante. Em primeiro lugar, é preciso que nós vejamos que, não obstante a evolução tecnológica das Fazendas estadual, municipal e federal, o fisco, ele está atrás disso tudo porque o computador só trabalha porque alguém comanda, não é verdade? Eu estava um tempo fiscalizando, aí cheguei numa empresa e disse: “Bom-dia. Eu gostaria de ver isso aqui. Quem faz isso aqui?”. E a moça disse: “É o sistema”. E eu: “Olhe, a senhora me ajudaria a falar com o sistema? Porque você é a pessoa é que faz, e o sistema opera”. Então, se a Fazenda está muito avançada e arrecadando muito, é porque há um fiscal por trás disso, redigindo a lei, dando OK nos processos, não concordando com o contribuinte, multando quando é devida a multa. Então eu vejo um papel fundamental, eu acho que Ipojuca acertou em colocar o Dia do Fisco. Eles estão de parabéns. 7. Existe uma fórmula para fazer com que a sociedade tire essa carga negativa do tributo e passe a enxergá-lo, como diz o tema do evento, como “um valor a serviço da cidadania”? SV – Vai demorar um pouco, porque lamentavelmente a máquina do fisco arrecada de um lado e o governo gasta de maneira incorreta, muitas vezes, do outro. Então, você conscientizar que o contribuinte deve, olhe o verbo, pagar o imposto é um pouco difícil. Ou muda a mentalidade do governo, que é o gastador, ou então realmente ninguém vai gostar de pagar imposto. No momento em que você vê tantos deputados federais, tanto municipais, tantos vereadores... você vê um Tiririca sendo candidato a deputado, quanto aquele homem vai ganhar? Então, a pergunta é: “É justo que o fiscal arrecade de um lado, se sacrifique até ou até corra riscos, e do outro só haja um gastador?”. Então, fica difícil a questão da arrecadação. Ou muda essa mentalidade, ou o governo sabe como gastar ou então o povo jamais vai querer pagar imposto. 8. É possível essa mudança em nível estadual e em nível nacional? SV – Sim, as pessoas jovens e conscientes é que vão formar o Brasil de amanhã. Hoje, já não mais se escuta dizer que alguém vai voltar em Fulano ou Beltrano porque ele bonito e tem os olhos verdes. Então, isso já está havendo uma mudança muito grande, e espero que todos nós nos conscientizemos da responsabilidade de se pagar o imposto, porém de se bem aplicá-lo. 9. Como seria possível estimular uma participação mais efetiva da sociedade com relação às políticas públicas e de se envolver mais na aplicação dos recursos que são arrecadados? SV – Enquanto o sistema educacional brasileiro não for levado a público, a todos, fica difícil. Quantos programas de televisão são desnecessários? Tem novela que ensina o adultério, tem novela que ensina a traição, mas não tem novela de conscientização educativa. E, lamentavelmente, me permita dizer que o governo quer isso: quanto mais analfabeto o homem, menos cobrará do poder público, menos consciência vai ter. Você veja quanto se gasta pelo Carnaval, quanto se gasta na política de maneira desnecessária. Hoje não há mais comício, mas antes o povo ia ao comício porque ia um cantor brega, o povo não ia para o comício para escutar a mensagem do político, era o showmício. Hoje, por exemplo, você liga o horário eleitoral e não vê um programa de governo, você vê um político falando do outro. Serra falando do Lula, mas o Serra já não foi do governo, por que não fez? Marco Maciel está há quanto tempo na política? E hoje ele fala, mas já foi governador, senador, vice-presidente, então ele não pode falar. Eu até acho que Max Weber, um grande sociólogo e cientista político, ele deve estar muito triste lá no túmulo, porque aqui no Brasil não há política, não há ciência política no Brasil. O cartão-postal para a política não é a saúde nem a educação, é o viaduto, é a ponte, o que aparece.

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